Segunda-feira, 3 de Agosto de 2009
As aulas já acabaram há um mês e já tenho saudades do reboliço da sala de aula.
Ao fazer a arrumação habitual de fichas utilizadas ao longo do ano lectivo deparei-me com uma série de desenhos, ofertas diárias dos meus alunos. A maior parte eram da Teresa que sempre que eu lhe dava um bom me gratificava com uma ilustração da sua autoria. Quando eu lhe dava um muito bom depositava-me em silêncio um rebuçado de fruta em cima da minha secretária.
Aqui, Skinner, o reforço positivo era dado a mim pela minha aluna. “Levas desenho e rebuçado se me deres boas notas, caso contrário….”.
Tenho saudades daquele reboliço.
Leonoreta
Sábado, 6 de Junho de 2009
A Maria perguntou-me quando é que eu dizia quem é que passava ou não de ano.
- No último dia. Já sabes disso. - disse eu.
- E a professora já sabe quem vai passar?
- Isso depende de como eu acordar nesse dia. Se eu acordar bem disposta passam todos. Se eu acordar mal disposta chumbo toda a gente.
- Ai! Então vou rezar todos os dias.
E diariamente tem-me perguntado como tenho acordado. Bem! digo eu e ela suspira de alivio por as oraçoes darem certo.
Ainda me expulsam do ensino por anti pedagogia.
Leonoreta
Sexta-feira, 10 de Abril de 2009
'Os politicos e as fraldas devem ser mudados frequentemente e pela mesma razão'.- Eça de Queiroz
Domingo, 15 de Março de 2009
"Os donos do capital vão estimular a classe trabalhadora a comprar bens caros, casas e tecnologia, fazendo-os dever cada vez mais, até que se torne insuportável. O débito não pago levará os bancos à falência, que terão que ser nacionalizados pelo Estado"
Karl Marx, in Das Kapital, 1867
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Sexta-feira, 30 de Janeiro de 2009
Entende-se por trabalho cientifico uma pesquisa que seja exequível, pertinente, feita com rigor e que objective a cientificidade.
O trabalho cientifico implica uma parte teórica (fundamentada por autores de gabarito, de preferência, para mostrarmos que andamos por dentro do assunto) e outra empírica ( a nossa observação no terreno, in locco).
Formulem uma hipótese do tipo – isto se a pesquisa for em biologia marinha – será que as alforrecas cospem para o ar num mar infestado por tubarões?
Vão à livraria ou digitem no Google e vejam quem já escreveu sobre o assunto. E não se espantem de ver a quantidade de estudos que já existem sobre o assunto. Sobretudo não desanimem.
Leiam. Leiam sempre mesmo quando já perceberam que já leram bastante. Continuem a ler. Nunca parem.
Simultaneamente, comecem a vossa observação. Caracterizem a vossa amostra. Pensem no modo de lhes sacar informação e no modo de analisar essa informação. Isto, no caso da amostra ser gente e conseguir falar. No caso das alforrecas será difícil. Suponho eu que entra aqui o conceito de exequibilidade. (sempre que digo esta palavra enrolo a língua quando chego ao “bi”)
Redijam o trabalho com frases curtas. como diz Umberto Eco, deixem as frases longas para o Proust. Lógicas rápidas. Isto é, uma variável tem de justificar a outra. Ou não. E se não, justifiquem-no nas conclusões.
A somar a isto tudo que tem de ser feito com prazos há a relação com o orientador. Da primeira sessão conjunta de trabalho surge a primeira emenda. Da segunda sessão, surge a emenda da emenda. Da terceira sessão, surge a emenda da emenda da emenda.
E nesta altura começam a questionar-se sobre a pertinência do vosso trabalho e a verem que já deixaram de ver quatro estreias no cinema.
Tudo tem um começo, um meio e um fim.
Finito.
Conclui, pela investigação feita que para além da hipótese formulada, o trabalho científico mata a metáfora.
E porque as metáforas morreram em mim estou nesta crise do não conseguir escrever e fico, assim meio apática a olhar o teclado e o papel branco..
Obstinada como sou, tenho de procurar metáforas.
Leonoreta
Sexta-feira, 2 de Janeiro de 2009
Entro sempre no novo ano com alguma apreensão. Não porque tenha medo do que ele possa trazer-me de negativo – penso que é um receio razoável de qualquer ser humano que tem por objectivo ser feliz – até porque quando faço o balanço verifico sempre que o saldo foi positivo.
Então, se o saldo é sempre positivo, porquê a apreensão dos dias por vir?
Trata-se de um ano novinho em folha por estrear que Quino, o autor de Mafalda comparava a um bloco de folhas em branco que teríamos de ir escrevendo com uma caligrafia apurada para não borrarmos a escrita.
Ora bem!
Numa perspectiva existencialista, mais dia menos dia ou, mais folha menos folha, lá estamos nós a cometer erros, sejam eles de ortografia, sintaxe ou semântica.
Estou a falar em sentido figurado já se vê. Os erros, propriamente ditos, são erros de conduta: atitudes e comportamentos, inconscientes ou não.
Numa perspectiva determinista o Grande Mudo que tudo tem planeado para mim em dias e horas certas certos mas que entende que eu não tenho que saber nada a não ser no momento exacto, deixando-me pensar que as escolhas são minhas.
E o que tem ele planeado para mim este ano?
É o não saber que me deixa apreensiva.
E se eu soubesse?
Mas Ele não quer que eu sofra por antecipação, seja por uma coisa boa ou uma coisa má e, assim, até que aconteça seja o que for só saberei na altura.
Afinal, esperar é uma virtude.
Leonoreta
Sexta-feira, 28 de Novembro de 2008
Começamos o dia com Matemática.
Dois quadrados de cartolina verde para dividir ao meio: quatro triângulos equiláteros.
Os alunos montaram uma árvore de natal sobrepondo os triângulos na vertical numa folha de papel cavalinho.
A instrução no quadro dizia:
agora decorem a árvore com:
- meia dúzia de pinhas
- uma dúzia de bolinhas
- meia dezena de presentes
- uma dezena de sinos
Nichita, que integrou a turma em Abril, vindo directamente da Moldávia sem saber uma palavra de português lá vai na aprendizagem da sua segunda língua de vento em popa.
Diariamente faz perguntas num sotaque romeno acentuadíssimo:
- Professora – perguntou hoje – o que é pinhas?
Desenhei um pinheiro – nunca desenhei tanto na vida – e, no meu traço desajeitado para o desenho, fiz algumas pinhas.
A Bruna lembrou-se que os campos da escola tinham pinhas e foi buscar uma para o Nichita ver.
Acabamos o dia com Língua Portuguesa.
“o gato tem medo do pato. O pato tem medo do gato. O rato tem medo do rato e o pardal não tem medo de ninguém” (mas quem é que escreve estas coisas para os miúdos?)
- Professora, o que é pardal? – perguntou o Nichita.
- É um pássaro. - respondi-lhe eu.
“Olha, queres ver que ainda temos de ir lá fora procurar um pardal?” - comentou o David mais ou menos em voz baixa.
Leonoreta
Sexta-feira, 31 de Outubro de 2008
Quando ingressei na universidade, logo na primeira aula, uma das muitas professoras que iria ter durante os quatro anos que durou o curso, disse-nos, a mim e aos meus colegas: “Escolheram educação. Em educação as coisas mudam todos os dias.”
Pensei que a professora estivesse a exagerar. Afinal, passados alguns anos, constato que tinha razão.
E contudo o que muda exactamente em educação?
É a forma ou o conteúdo?
As duas coisas ou nenhuma delas?
Ah! Agora poderia dissertar sobre o assunto até não saber mais o que dizer. Mas não vou por aí.
As mudanças espalhafatosas lembram-me sempre uma história que passo a contar.
Com a finalidade de estreitar os laços entre duas empresas, sendo uma delas portuguesa e outra japonesa, foi decidido realizar-se anualmente uma prova de remo.
Na primeira competição, os japoneses destacaram-se desde o primeiro instante. Chegaram à meta em primeiro lugar. A equipa portuguesa chegou uma hora depois.
A direcção portuguesa reuniu-se para analisar os resultados de tão desastrosa derrota e concluiu que a equipa japonesa era composta por um chefe de equipa e dez remadores enquanto que na equipa portuguesa havia um remador e dez chefes de equipa.
No ano seguinte, a equipa japonesa destaca-se mais uma vez chegando em primeiro lugar à meta. Desta vez a equipa portuguesa chegou duas horas depois.
A direcção reúne novamente e constata que a equipa japonesa possui um chefe de equipe e dez remadores enquanto que a equipa portuguesa, com as medidas tomadas após o fracasso do ano transacto, era constituída por um chefe de serviço, dois acessores da gerência, sete chefes de secção e um remador.
Pelo que se concluiu por unanimidade que o remador era um incompetente.
Leonoreta
Sexta-feira, 17 de Outubro de 2008
Ensino as vogais, as consoantes, os ditongos, as unidades, as dezenas e as centenas, o “e vai um”, o corpo humano.
E penso… como é que eu aprendi isto tudo? Quero dizer… que método usou a minha professora para me ensinar essas coisas? Porque nessa altura ainda não se falava no lúdico. A didáctica era feita basicamente a reguadas. Estas não eram anti pedagógicas e quem as levou parece exibir uma espécie de orgulho por tê-las levado. Não ficou trauma.
Em quatro anos de escola primária levei uma reguada. Injustamente. Deixei cair um lápis a meio de uma explicação da professora.
A régua tinha usos muito abrangentes. Além de controlar comportamentos desviantes, de distinguir classes sociais, era também o “apoio educativo” e o “ensino especial”para dificuldades de aprendizagem.
Ainda bem que a régua desapareceu dos estabelecimentos escolares pelo seu uso indevido.
Contudo, verificando-se actualmente que houve um salto da indisciplina para a violência na escola, que afecta bastante a relação pedagógica, algo mais será preciso que o simples sermão porque ralhar não dói.
Sábado, 4 de Outubro de 2008
Quem corre por gosto não se cansa, diz o povo na sua sabedoria empírica.
Mas eu lembro-me das palavras de José Régio: “viver também cansa”.
Logo, correr também cansa. Mesmo que seja por gosto.
Esta conversa toda para dizer que, apesar de ter feito aquele trabalho, dito de carácter científico, ao qual dediquei um ano de leituras especificas e de escritas afins (perde-se o jeito às metáforas) com gosto (e alguns desgostos) estou cansada.
Não consigo escrever nada. Não arranjo assunto.
Apenas passo os olhos pelo que vocês escrevem.
De modo que… espero que os pingos de chuva de Outono me tragam alguma inspiração.
Leonoreta