No 1º ano, ao mesmo tempo que dou uma letra nova, procuro no meu património cultural adquirido na escola primária o meu reportório musical a fim de arranjar uma canção que possa alegrar a aprendizagem dessa letra.
Não sei porquê mas os miúdos adoram a canção do galo. Pela cadência musical?
- Ok, vamos lá saber o que estas palavras querem dizer. – digo eu.
O nosso galo é bom cantor
É bom cantor
Tem boa voz
(O nosso galo é bom cantor porque tem boa voz.)
Mas veio um dia e não cantou
Outro e mais outro e não cantou
(o que é que aconteceu?
- Perdeu a voz. – diz um.
- Não quis mais cantar. – diz outro
O mais malandro, o David, sentado lá atrás passa o indicador esticado pela ao longo do pescoço em jeito de faca.
- Pois é. – digo eu - O dono matou-o e comeu-o. Esta canção é uma canção que fala de morte.
- iiiii, professora, morte não. – diz a Filipa, que anda no psicólogo desde os três anos de idade porque encontrou o avô morto no chão da sala.
- Filipa, eu também não gosto mas a morte faz parte da vida. As plantas, os animais nascem, vivem e morrem.
A Filipa conta o trágico acontecimento que a traumatizou. Momento difícil para uma miúda de seis anos que relembra aquele dia como se fosse ontem.
Cantamos a canção em vários andamentos. Mais depressa na primeira parte e em passadas lentas na segunda como se fossemos num funeral. Alguns só fazem de galo. Cantamos várias vezes.
Não creio ter banalizado a tristeza ou a dor de perder alguém mas apenas falar e pensar nela porque ela existe.
Leonoreta
De
António a 9 de Maio de 2008 às 22:54
Gostei muito deste teu texto, minha querida Leonor!
É pequeno mas rico de conteúdo.
Beijinhos
Um pouco tétrico... não imaginava a cnção do galo como canção de morte :) ou não me lembro da letra :)
Um beijo
Daniel
De almapater a 13 de Maio de 2008 às 00:09
Ah, se pudesse você Leonor, ensinar às suas crianças, de que cor é o horizonte, quando os olhos vêem a infinidade da distância... `
Porque de facto, a desordem de hoje, está na incompreensão da dor. Até esta se faz banal...Afinal, tudo regressa ao pó, não é? E contudo, o amor ainda o é, quando a morte faz doer.
Beijo e tenha boa semana.
De leonoreta a 14 de Maio de 2008 às 20:48
ola almapater
tudo volta ao pó, sim. mas até tudo voltar ao pó as voltas que a coisa não dá...
beijinhos
De
Yuri a 16 de Maio de 2008 às 21:16
E de nada vale ignorar algo que ha-de sempre fazer parte das nossas vidas...
Atrás da cantorolice do galo vem a tristeza da morte.Faz parte da vida e as criaças começam a compreendê-lo. Bjs
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