Quando eu me demoro a chegar à sala depois do intervalo há sempre alguém a vigiar a porta, uns metros mais à frente, para que os outros escrevam tudo o que quiserem no quadro e a professora não ver.
Depois, quando o vigia me vê a aproximar corre para que os colegas tenham tempo de apagar o quadro.
E desta vez a escolha recaiu no Nichita. Nichita já fala bem. Já diz “eu percebo”. Já diz “posso distribuir?” (os trabalhos feitos ao longo da semana que precisam de ser arrumados no dossier). Já diz “posso ir eu?” (quando eu peço um voluntário para ir ao quadro.
Mas Nichita distrai-se e quando me vê quase em cima dele tem um susto que não consegue disfarçar. Corre à minha frente a gritar “PROFESSORA, PROFESSORA”.
Não escrever no quadro na minha ausência é uma regra de sala de aula a fim de evitar conflitos pela posse do giz e do espaço da ardósia.
Antes de eu entrar na sala, entro na casa de banho e conto até trinta. Quando entro na sala, o quadro está limpo, está tudo sentado em silêncio.
Olho para o quadro. Olho para eles.
- Será que apaguei o quadro antes do intervalo? – pergunto “espantada” porque fica sempre matéria escrita.
Ninguém responde. Entreolham-se comprometidos à espera do que virá depois.
- Bom! Se calhar apaguei. Filipe começa a ler o texto.
E todos abrem o livro aliviados de uma possível punição.
No contexto de sala de aula não há receitas para controlar comportamentos indisciplinados mas uma coisa o tempo me ensinou: o castigo só os agrava.
Leonoreta
De almapater a 14 de Junho de 2008 às 10:11
Raramente, o problema de uma resposta problemática, deixa de estar na pergunta que a motivou. Com a agravante, de que... saber compromete. Não, não se trata de olhar o céu e cuspir para o lado. Trata-se tão só, de ter a inteligência de viver na linha que mais auto satisfação garante. Mesmo que essa, não passe de uma imensa e interminável crise de fígado.
QUE, não é o caso do seus meninos cara Leonor. Aí, você é simplesmente genial, no tão bem saber, como a gestão da elasticidade das regras, é o mais eficaz caminho do aprender a ser rigoroso. Só tem autoridade, que sabe não ser autoritário. Que bem vc o faz...
Excelente pedagogia Leonor.Não existem receitas para certos comportamentos mas existem regras elaboradas por todos e eles aceitam-nas muito bem.Assim se vai moldando o ser humano e não com o castigo como muitos pensam.Boa semana e tudo de bom
De
António a 14 de Junho de 2008 às 21:20
Querida Leonor!
O comportamentos dos grupos é uma coisa interessantíssima, sejam crianças, adultos, homens, mulheres, velhos...
O seu estudo é deveras aliciante mas está longe de ser uma ciência exacta.
Felizmente!
Beijinhos
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