Tudo o que eu escrevo é de improviso. Um improviso pensado.

.posts recentes

. Reforço positivo

. Tenho rezado todos os dia...

. Relembrando Eça

. Marx avisou

. Onde arranjar metáforas?

. Esperar é uma virtude

. Aprender uma língua

. A culpa é do remador

. Ralhar não dói

. Escrever também cansa

.arquivos

. Agosto 2009

. Junho 2009

. Abril 2009

. Março 2009

. Janeiro 2009

. Novembro 2008

. Outubro 2008

. Setembro 2008

. Agosto 2008

. Julho 2008

. Junho 2008

. Maio 2008

. Abril 2008

. Março 2008

. Fevereiro 2008

. Janeiro 2008

. Dezembro 2007

. Novembro 2007

. Outubro 2007

. Setembro 2007

. Agosto 2007

. Julho 2007

. Junho 2007

Em destaque no SAPO Blogs
pub
Quinta-feira, 31 de Julho de 2008

Na busca de sentido

 

Desci na bicicleta  os cerca de trezentos metros da rampa do Gingal com os travões a fundo não fosse eu chegar lá em baixo a rolar mais depressa que o velocípede. Como sou agnóstica (quando não se tem a certeza é melhor jogar pelo seguro) rezei para que não passasse nenhum carro que me fizesse encostar à berma da estrada.
É que, para mim, montar numa bicicleta num plano a descer é um caso muito sério. Montar numa bicicleta num plano a subir é um caso impossível. Não passou ninguém e das duas uma: ou  a oração funcionou ou então, por serem  sete horas da manhã de um sábado de um mês de Agosto toda a gente dormia e estava de férias.
Apanhei o barco para Belém e andei que me fartei por aqueles jardins verdejantes junto ao rio. O terreno a direito  deu para fazer algumas habilidades à volta do mapa mundi que enfeita o chão em frente à caravela de pedra.
Uma turista oriental, entretida a conseguir o melhor enquadramento com a sua máquina digital recuava a passos largos em direcção à minha bicicleta e quase tropeçava no pneu da frente se eu não fizesse soar a campainha. Felizmente que percebeu o “trim” universal e eu escusei-me de enumerar uma série de marcas japonesas de telemóveis que conheço, única aquisição de tão estranha língua.
 
 
Certo dia vi num documentário televisivo a lógica morfológica dos símbolos chineses e certo dia depois disse numa aula que escrever chinês era fácil pelo que tive de repente cerca de vinte rostos na minha direcção curiosos por saberem o truque.
 
- Não, esperem, o que eu queria dizer é que escrever chinês não é assim tão difícil.
 
Os rostos logo se desviaram do meu com ar de desdém e, se de repente eu era o alvo das atenções, de repente também deixei de o ser. A rectificação frásica fez-me perder em segundos qualquer credibilidade poliglota.
 
 
Apanhei o barco para Cacilhas. Lembrei-me que a rampa a descer era agora  a subir. E se às sete da manhã prevalecia a dimensão Metafísica, agora ao meio dia prevalecia a dimensão da Física. Parei junto ao elevador panorâmico. Hesitei. Como sou agnóstica (nunca se sabe) rezei para que o segurança me deixasse subir com a bicicleta.
 
- O senhor deixa-me subir no elevador com a bicicleta?
- Suba lá. – disse ele, sem retirar as mãos cruzadas atrás das costas.
 
Entre aquilo que é, e sei que é, e aquilo que poderá ser, e não sei se é, partindo da minha experiência, vou explicando a minha realidade,  ultrapassando-a de modo a chegar a outras realidades que a transcendem numa busca de sentido.
 
 

publicado por leonoreta às 19:33

link do post | comentar | favorito

5 comentários:
De António a 31 de Julho de 2008 às 21:36
Olá, Leonor!
Elucubrações curiosas a propósito de um passeio de bicicleta.
Lê-se com agrado, sobretudo porque usas bem o teu sentido de humor (como habitualmente, aliás).

Beijinhos


De meldevespas a 1 de Agosto de 2008 às 11:06
Assim como assim, a bicicleta sempre é mais segura que a motorizada, não é?
Muito bem escrito e escorreito.
Goste muito como sempre gosto quando as palavras me fazem sorrir.
Beijinho e bom fim de semana


De Daniel Aladiah a 13 de Agosto de 2008 às 00:15
Querida Leonor
E não ficaste gnóstica? Com dois pedidos em oração cumpridos? Pensa bem... :)
Um beijo
Daniel


De Jorge Santos a 13 de Agosto de 2008 às 15:19
Bem, embora não tivesse feito nenhum comentário, às tuas aventuras motorizadas tanto como pendura assim como condutora de uma scooter(ri-me até às lágrimas) faço agora em relação ao velocipede do qual sou adepto e conhecedor das rampas de almada até cacilhas, imaginei a cena toda principalmente o regresso, eu fazia o mesmo no Porto, pagava 50 centavos dos antigos escudos para vir da beira rio até cá acima nos elevadores da ponte da arrábida que aquilo, só de olhar para as ladeiras em paralelipipedo até apertava o coração! :) mas ainda consegui subir a pedalar uma ou duas vezes lá pelos meus idos 16 aninhos. Beijinho


De Arte por um Canudo a 16 de Agosto de 2008 às 15:58
Olá Leonor!..

O sentido existia, ou para cima ou para baixo, mas ambos a pedir orações...
Com um certo sentido de humor e muito bem escrito, vais relanto as tuas realidades na procura doutras realidades. Bjs


Comentar post

.mais sobre mim

.pesquisar

 

.Agosto 2009

Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1

2
3
4
5
6
7
8

9
10
11
12
13
14
15

16
17
18
19
20
21
22

23
24
25
26
27
28
29

30
31


.tags

. todas as tags

.links

blogs SAPO

.subscrever feeds