No seu escritório, Leonor fita os dossiers abertos ao longo de todo o armário. Tinham chegado ao fim. Ana vira as folhas pondo tudo de principio novamente para começar um novo ano que começará em Setembro.
- Por onde tens andado Ana?
- Eu tenho andado sempre por aqui. Sou uma pessoa de rotinas duras. Faço sempre tudo da mesma maneira sempre as mesmas horas.Quem quiser encontra-me sempre no mesmo lugar.
- Nunca mais te vi.
-Tu és assim, rsss. Easy come easy go.
Ana tinha aberto uma gaveta. Tinha começado a terapia das gavetas. Era bom descobrir coisas das quais já não se lembrava mais.
- Há quanto tempo não te sentas à janela, descansando os olhos no verde? – perguntou a Ana.
- Imenso.Parece que foi ontem. As coisas mudam à velocidade da luz. Em dez anos as coisas mudaram tanto…
- Arrependida?
- Não é arrependimento… é … é pensar que não deviam ter acontecido…
- Mas aconteceram.
- Que algumas coisas aconteceram sem eu esperar.
- A maior parte das vezes é assim.
- Que se não tivessem acontecido…
- Nada teria sido diferente.
- Porquê?- perguntou Leonor curiosa.
- Existem vários caminhos para chegares ao teu destino mas todos vão lá dar.
Ana coloca um cd no gravador. A música começa a tocar.
“Lord of the Ages came one night…”
- Há quanto tempo não ouves Magna Carta?- perguntou a Ana.
- Imenso.
Leonor abriu a janela e olhou para o jardim em frente. Estavam alguns galhos da velha árvore caídos no chão derrubados pelo vento.
- Não te preocupes. Estão outros a crescer..- disse a Ana - a natureza sabe o que faz.
Leonoreta
De
António a 13 de Julho de 2007 às 23:02
Querida Leonor!
Um bom texto servido por um diálogo como poucas vezes usas.
Será que tudo o que nos aconteceu não foi realmente marcante?
Eu não sou determinista: acho que foi!
Beijinhos
ola antonio
sim, claro que tudo o que nos acontece é marcante na nossa vida. mesmo os casos que consideramos negativos nos ajudam a formar o carácter e o modo como encaramos os acontecimentos futuros. sem duvida.
obrigado pela visita sempre oportuna.
abraço da leonoreta
De
António a 14 de Julho de 2007 às 17:37
Só eu é que comento aqui?
rss
penso que nao. alias, no post anteiror ja comentaram bastantes amigos.
começaram as ferias.
abraço da leonoreta
De
António a 15 de Julho de 2007 às 00:32
Então os outros amigos estão distraídos...eh eh.
Boas férias!
Beijinhos
De
yuri a 15 de Julho de 2007 às 17:12
"- Existem vários caminhos para chegares ao teu destino mas todos vão lá dar."
Nós é que traçamos o caminho e com ele o destino, não posso acreditar que está tudo escrito. Se assim fosse estaria deitado à espera que o fim chegasse.
Já o tempo que passa sem avisar...
De CARPE DIEM a 15 de Julho de 2007 às 20:39
olá, estou de ferias e distraido o meu miudo vê o "panda" e a minha miuda "companheira da minha vida" traduz em silvos ritmados uma merecida soneca de domingo a tarde, e assim tranquilo tenho tempo para ler este novo blog(para mim). gostei do que li continua a escrever.
abraço
jorge
Então mudaste-te e eu, distraída, ainda não tinha dado por isso? Ai, Isabel, por onde andas? E não é que esta Ana foi feita à minha imagem e semelhança? Ando um bocadinho triste e cansada mas as férias estão mesmo, mesmo aí. Não vou arrumar gavetas, desta vez. Juro! Quem mais jura mais mente! Dizem-me. Mas ,em breve, vou olhar o verde do campo,com mais atenção, o melro que me visita a toda a hora, o céu azul e , à noite, observarei as estrelas. Eu sei que algumas estão a guardar-me. Olho-as todas por igual. Amiga, gostei tanto do teu post! Vou fechar os dossiers. E não é que vou mesmo! Beijinhos!
P.S Vais mudar de casa, ou manténs o outro apartamento?
De
cm a 16 de Julho de 2007 às 18:29
terapia das gavetas...acaso, deriva, sorte e destino...as memórias e os porqués ...saídos das paginas relidas....mas a janela aberta é sempre um caminho para as deixar partir
um abraço
De Lusitana a 16 de Julho de 2007 às 18:52
Bem, em relação a esta frase:
"Existem vários caminhos para chegares ao teu destino mas todos vão lá dar. "
Tenho uma opinião a dar:
Nós podemos pensar como Espinosa, quando esta afirma que tudo está determinado... Assim, esta frase faz todo o sentido. Mas se pensarmos como Jean Paul Sartre que afirmava o homem ao ser livre, podia traçar o seu próprio destino (isto claro para seres racionais, que ñ agem por instinto) essa frase deixa de ter sentido. Pois nós traçamos o nosso caminho, mas o nosso destino, vai ao encontro das opções que tomarmos, não do caminho pré-definido... [espero que estas pessoas não te sejam totalmente desconhecidas]
No entanto, se pensarmos bem, (tal como Espinosa afirmava) desconhecemos as causas que determinam os nossos actos, logo, essas causas desconhecidas, podem-se dever a "ante-causas" determinadas... É uma questão propícia a um grande debate, visto que ninguém consegue descobrir a verdadeira razão ou objectivo da nossa existência...
bjnho *
ola lusitana.
esperas que essas pessoas nao me sejam desconhecidas. espinosa, o filosofo holandês que por um triz não era portugues nao fosse a expulsao dos judeus por don Manuel, e sartre?
têm-me feito a cabeça em água com as suas teorias desde miuda. mas quem me tramou mesmo a minha vida foi kant com a escolha do bem nua e crua sem olhar a quem.
beijinhos da leonoreta e obrigado pelo teu excelente comentario
De
mixtu a 17 de Julho de 2007 às 00:13
as gavetas... não tenho
o recordar...
eu se mandasse probia os putos na primaria de conjugar o verbo no passado e no presente...
só no futuro, que se bem medido tem o tamanho da vida...
ps, se gostaste, é provavel que adores o meu 3º comment, exemplo de amor...
abrazo, amiga e deixa ed ensinar os putos naqueles tempos, :)
Mais um excelente post Leonor. A rotina da Ana é como o ciclo da natureza e tudo volta ao principio.Esta é também mais uma fase desse ciclo, o retempero de forças para voltar novamente ao mesmo.Boas Férias.
Leonor:
Quanto ao sapo e a questão que puseste se carregares na tecla Ctrl e ao mesmo tempo nas mensagens consegues apagar muitas em simultâneo. Bjs
De
alexiaa a 17 de Julho de 2007 às 20:45
Duma forma simples digo-te que acredito no destino. É uma espécie de todos os caminhos vão dar a Roma…por isso é que não abro gavetas. Por isso e pelo facto de elas estarem atravancadas de lixo...emperraram:)
De
APC a 17 de Julho de 2007 às 23:47
É da nossa natureza "devirmos" sem darmos conta. Os momentos em que paramos para apreciar, reflectir e respirar são a coisa boa de um continum cujo avanço não travamos e em parte não dominamos. E a natureza, e a arte... São brindes de vida, regalos intemporais, pedaços de magia que entram por nós adentro e connosco se fundem, tal a fome e a sede de viver com mais sentido(s).
Sentido, o texto. Saudades, tinha. Mudou, o blog... Está bonito! E a tua foto acrescenta-lhe pontos! :-)
Um grande abraço.
APC!
o teu comentário é um abraço.
De almapater a 18 de Julho de 2007 às 00:33
É!
Fica sempre essa dúvida. Como seria a normalidade, sem o fortuito da anormalidade. Contudo, e paradoxo dos paradoxos, não é a normalidade o somatório de todas as anormalidades? Não é a ausência de normalidades, que se o normal de cada dia?
Ah! Quem em nome do desconhecido, fala do que não deveria ter acontecido?
Bem que lhe digo, boa Leonor; Se cada copo de vida, mitiga a sede que a passagem do tempo, deixa nos cantos dos olhos, permitamo-nos as bebedeiras possíveis, sem temores de ressacas vindouras. Na hora da verdade, o seu sorriso será mais largo, do que, o dos que de si terão pena...
Nota: Lord of the Ages...
A evocação, levou-me ao findar de 1973. Perdido na escuridão da noite, o negrume de Monsanto. Como o desfilar destes tempos, não foi mais, que a sucessão desabrida de desalinhamentos. E como esse som se fez a constante, onde tudo se assumiu variável. Como é estranho este mundo.
Almapater, que bom senti-lo aqui.
as coisas são de facto como diz: é a normalidade que permite o contrário e pelas anormalidades se opta pelo que se julga ser normal. assim como também é pela rotina instalada que se um dia se pode quebrá-la.
mas, mesmo sendo tudo tão axiomático, questionemo-nos sempre. mais que nao seja, para passar o tempo...
abraço
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