. Tenho rezado todos os dia...
De um segundo para o outro, o céu ficou mais cinzento e ela apressou o passo quando sentiu os primeiros pingos de chuva a molharem-lhe o rosto.
Atravessou descuidadamente a passadeira sem se preocupar com o trânsito e entrou de rompante na pastelaria. Chocou à entrada com uma senhora que ia a sair e pediu desculpa. Sentou-se numa mesa vaga ao acaso, respirando fundo a fim de acalmar as palpitações cardíacas.
O empregado de mesa aproximou-se e ela pediu um chá de limão que a sua constipação pedia urgentemente.
Enquanto se dispunha a esperar pelo pedido começou a observar quem estava na pastelaria. Foi quando reparou nele, sentado mesmo na frente dela. De perna traçada, cotovelo apoiado na mesa, fumava cachimbo olhando a rua imerso nos seus pensamentos.
O empregado trouxe-lhe o chá e ela tomou-o em pequenos goles. Beba muito chá, disse-lhe o médico.
Falo-lhe? Pensou ela. Ele podia não se lembrar dela ou fazer que não se lembrava e ela iria ficar embaraçada. Restava-lhe pedir desculpa pelo engano e pelo incómodo.
Ela olhou para a rua. Já tinha parado de chover. Entretanto, já tinha acabado de tomar o seu chá. Chamou o empregado e pagou a despesa. Levantou-se, ajeitou a mala no ombro e passou por ele sem olhá-lo.
- Continuas a deixar a iniciativa para os outros? - perguntou ele.
Ela sorriu. Ousadamente sentou-se na mesa dele sem ser convidada.
- Temia que não me reconhecesses. – disse ela.
- Impossível.
Conversaram o resto da tarde.
Leonoreta
A primeira vez que ouvi falar de Jesse James teria mais ou menos uns vinte anos. Na procura de novidades musicais (em vinil) houve um que me chamou a atenção pela sua capa que me fazia lembrar um pôr do sol por causa das suas cores quentes, amarelo e vermelho. Quatro cabeças famosas da country music interpretavam a história de um dos mais famosos bandidos americanos.
Fui ver o filme “O assassino de Jesse James”. O momento dos dois disparos que se ouvem no disco que avisa o ouvinte da morte anunciada é prolongado para duas horas num jogo de prolepses e analepses que justificam as motivações do assassino, ele próprio tão bandido como o assassinado.
Gostei do filme pelo trabalho de prolongamento que se dá a um breve período de tempo, a um esmiuçar de pormenores de uma circunstãncia: como um encontrão que se dá na rua a meio de uma passadeira atravessada à pressa. O impacto foi tão rápido que os transeuntes não perceberam que já se conheciam de anos antes cuja amizade foi estragada porque a mãe de um deles não suportava que o amigo do filho se abancasse lá em casa à pala do jantar.
Lembro-me com saudade de uma cadeira de literatura em que a professora nos sugeria um objecto qualquer, um lápis, um alfinete, e falássemos dele durante cinco minutos. Perdulária a professora. Dava-nos também uma semana para pensarmos na lógica discurso.
Gostei do filme. Não pelo nome mais sonante que o chama às bilheteiras, Brad Pitt, mas pela personagem que dá andamento à acção. Não liguei ao nome e tive pena. Poderia resolver o assunto agora numa pesquisa da net mas tenho preguiça. E fico por aqui.
Leonoreta
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