Entende-se por trabalho cientifico uma pesquisa que seja exequível, pertinente, feita com rigor e que objective a cientificidade.
O trabalho cientifico implica uma parte teórica (fundamentada por autores de gabarito, de preferência, para mostrarmos que andamos por dentro do assunto) e outra empírica ( a nossa observação no terreno, in locco).
Formulem uma hipótese do tipo – isto se a pesquisa for em biologia marinha – será que as alforrecas cospem para o ar num mar infestado por tubarões?
Vão à livraria ou digitem no Google e vejam quem já escreveu sobre o assunto. E não se espantem de ver a quantidade de estudos que já existem sobre o assunto. Sobretudo não desanimem.
Leiam. Leiam sempre mesmo quando já perceberam que já leram bastante. Continuem a ler. Nunca parem.
Simultaneamente, comecem a vossa observação. Caracterizem a vossa amostra. Pensem no modo de lhes sacar informação e no modo de analisar essa informação. Isto, no caso da amostra ser gente e conseguir falar. No caso das alforrecas será difícil. Suponho eu que entra aqui o conceito de exequibilidade. (sempre que digo esta palavra enrolo a língua quando chego ao “bi”)
Redijam o trabalho com frases curtas. como diz Umberto Eco, deixem as frases longas para o Proust. Lógicas rápidas. Isto é, uma variável tem de justificar a outra. Ou não. E se não, justifiquem-no nas conclusões.
A somar a isto tudo que tem de ser feito com prazos há a relação com o orientador. Da primeira sessão conjunta de trabalho surge a primeira emenda. Da segunda sessão, surge a emenda da emenda. Da terceira sessão, surge a emenda da emenda da emenda.
E nesta altura começam a questionar-se sobre a pertinência do vosso trabalho e a verem que já deixaram de ver quatro estreias no cinema.
Tudo tem um começo, um meio e um fim.
Finito.
Conclui, pela investigação feita que para além da hipótese formulada, o trabalho científico mata a metáfora.
E porque as metáforas morreram em mim estou nesta crise do não conseguir escrever e fico, assim meio apática a olhar o teclado e o papel branco..
Obstinada como sou, tenho de procurar metáforas.
Leonoreta
Entro sempre no novo ano com alguma apreensão. Não porque tenha medo do que ele possa trazer-me de negativo – penso que é um receio razoável de qualquer ser humano que tem por objectivo ser feliz – até porque quando faço o balanço verifico sempre que o saldo foi positivo.
Então, se o saldo é sempre positivo, porquê a apreensão dos dias por vir?
Trata-se de um ano novinho em folha por estrear que Quino, o autor de Mafalda comparava a um bloco de folhas em branco que teríamos de ir escrevendo com uma caligrafia apurada para não borrarmos a escrita.
Ora bem!
Numa perspectiva existencialista, mais dia menos dia ou, mais folha menos folha, lá estamos nós a cometer erros, sejam eles de ortografia, sintaxe ou semântica.
Estou a falar em sentido figurado já se vê. Os erros, propriamente ditos, são erros de conduta: atitudes e comportamentos, inconscientes ou não.
Numa perspectiva determinista o Grande Mudo que tudo tem planeado para mim em dias e horas certas certos mas que entende que eu não tenho que saber nada a não ser no momento exacto, deixando-me pensar que as escolhas são minhas.
E o que tem ele planeado para mim este ano?
É o não saber que me deixa apreensiva.
E se eu soubesse?
Mas Ele não quer que eu sofra por antecipação, seja por uma coisa boa ou uma coisa má e, assim, até que aconteça seja o que for só saberei na altura.
Afinal, esperar é uma virtude.
Leonoreta