Há uma pessoa que me conhece como a palma da sua mão. É a Fernanda. Ela sabe o meu interesse por algumas coisas e a minha indiferença por outras, a minha maneira de me entregar e a minha maneira de desistir.
Vi a Fernanda pela primeira vez no liceu quando passei para o 9º ano (antigo 5º do curso geral). Partilhávamos os mesmos amigos mas não nos falávamos. De certo modo, a Fernanda afastava as raparigas por ser bonita e roubar namorados. Muito mais alta do que eu, o seu ar celta de cabelos claros contrastava com o meu ar de moura, de cabelos escuros.
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Sempre tive a mania de chegar sempre cedo. Porém, cheguei atrasada no meu primeiro dia de aulas de Setembro de 1976. Já conhecia o liceu e descobrir a sala foi fácil. Com quinze anos não batia às portas. Abri-as simplesmente na minha atitude mais selvagem. E quando abri a porta vi uma sala cheia de gente pela qual eu não morria de amores e cujo lugar vago era ao lado da Fernanda. Nessa turma estava também o homem que viria a casar comigo.
Foi por acaso que ao fim de alguns dias – muitos – começámos a falar, descobrindo que até nos dávamos bem, apesar de nunca termos simpatizado uma com a outra ate então. Íamos ao cinema, à praia, jogávamos crapot. A Fernanda foi madrinha do meu casamento e madrinha dos meus filhos quando fizeram a promessa de lobitos nos escuteiros. Ela nunca casou.
Quando eu pensei que os meus filhos já não precisavam tanto de mim voltei aos bancos da escola e fui para a universidade. Nesse tempo, a Fernanda mudou-se para o Algarve. Já não a vejo há doze anos. Uma vez por ano eu felicito-a pelo aniversário e um mês depois ela felicita-me a mim até ao ano seguinte.
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Recentemente, num seminário de psicologia fizemos um jogo. Num círculo púnhamos “eu”. E à volta do nosso “eu” várias rodas em vários círculos em duas, três, quatro filas. A primeira fila pertencia às pessoas que estão perto de nós. A segunda e as restantes às que já não estão. Teríamos de rodear as pessoas que já não estão perto de nós e que queríamos telefonar ou ver.
Telefonar, telefonar… não. Mas ver…sim. E desenhei vários círculos no nome da Fernanda.
Leonoreta
De pedro alex a 24 de Agosto de 2007 às 14:42
Olá Leonor :D
Tenho uma amiga psicóloga, ainda a começar, mas psicóloga.
Por vezes, na paixão de quem começa, conta-me peripécias clínicas que tem com pacientes anónimos para mim.
Li-te, talvez um dia destes lhe faça um desses desenhos e lhe peça interpretação.
Os nomes… escrevê-los-ei ao acaso.
Bjs
ola pedro
embora ligada á pedagogia pelo umbigo interesso-me com todos os sentidos pela psicologia apenas com um unico fim: entender os outros e mais do que tudo, fazer-me entender aos outros.
se escreves os nomes ao acaso, naquilo que eu pouco percebo, penso que nao será preciso dares á tua amiga para interpretar, pois quando escreveres certos nomes ja saberás porque os escreves. a interpretaçao de outrem so serviria para tu saberes se esses nomes se notam muito no teu olhar quando neles pensas em silencio.
beijinhos
De
alexiaa a 24 de Agosto de 2007 às 17:56
Neste fórum de psicologias não entro, acho que a tag é simples e para mim suficiente. Saudade é a tal palavra que não têm tradução, sente-se inesperadamente e leva-nos em direcções muitas vezes incompreensíveis!
Claro que acabei de estar de acordo com essa coisa da explicação psicológica mas escrevi como se não estivesse…
Ufa…estou cansada de tão tortuoso raciocínio…para variar:)))
Beijinho
De
António a 24 de Agosto de 2007 às 23:43
Querida Leonor!
Será que este olhar saudoso para o passado significa que estás a ficar velhota?
Ora aqui está uma boa questão para ser analisada na perspectiva psicológica.
Mais uma vez, gostei de te ler.
Mas não admira: um 3º lugar e duas Menções Honrosas no Concurso de contos a que concorreste com quatro...são significativos!
Beijinhos
De
António a 24 de Agosto de 2007 às 23:44
Descobri-te a careca!
ihihihih
ola antonio
todas as carecas poderiam ser descobertas assim desta maneir ahonrosa, rsss
beijinho
De
António a 25 de Agosto de 2007 às 14:48
Tive muita honra...em descobrir a careca.
De Leonor C. a 25 de Agosto de 2007 às 19:08
Também eu tive uma amiga que gostaria de rever. Mas já passaram muitos anos e as pessoas, por vezes mudam. Talvez o tempo, talvez porque isso já não tem o mesmo significado para elas, enfim, por muitos motivos e também por experência própria. Então... é melhor ficar quietinha pois sou muito sensível a acolhimentos menos favoráveis.
Beijinhos
De leonoreta a 25 de Agosto de 2007 às 19:54
é verdade leonor. as pessoas mudam. mas aquelas que cresceram connosco serão sempre as mesmas da nossa infancia
beijinhos
De
mac a 26 de Agosto de 2007 às 18:39
A vida afasta as pessoas, traçando-lhes novos rumos. Novos lugares, novas adaptações, mas a lembrança fica sempre lá. Quando olhamos para trás, e sem darmos por isso, já passou 1 década.
De somentebia a 26 de Agosto de 2007 às 21:46
Causa-me enternecimento quando vejo o 'saudosismo' trazer à baila essas lembranças bonitas de amizades que aconteceram na infância ou na faculdade, e que se perpetuaram por um tempo. Tenho o privilégio de ainda conviver com essas amizades que nasceram em épocas tão importantes de minha vida. Aquelas da infância ainda moram no mesmo bairro e temos encontros permanentes. As que foram feitas ao londo da vida acadêmica, ou trabalham junto a mim ou temos a alegria de um encontro nos finais de semana. Por esse motivo posso dizer que sou privilegiada, pois a vida não me afastou das pessoas que me conquistaram a amizade.
Teu texto é doce, envolvente, e mostra de forma cativante a tua face de afetividade. Ainda bem que existe a saudade para continuar a 'unir' os corações que um dia bateram em uníssono em boa parte da caminhada. Com toda a certeza, também tua amiga Fernanda mantém de ti essas lembranças tão afetuosas.
Deixo pétalas de perfumadas flores silvestres, um beijo no coração, e o desejo de uma semana iluminada de paz, alegria e realizações.
De
yuri a 27 de Agosto de 2007 às 01:32
Era capaz de fazer e pensar exactamente o mesmo que tu em volta de um nome. "Raquel".
De
Isabel a 28 de Agosto de 2007 às 15:44
A minha Fernanda chama-se Conceição. Se não tivesse a certeza que a história é tua dizia que era minha de tal forma se parecem. Eu não tinha na turma o homem com quem casei mas tinha a Conceição que não devo ver também à uns 12 anos e de quem acho que sentirei saudades para sempre.
Com ela as memórias são inesgotáveis e trazem um sorriso e uma dorzinha de saudade.
Um grande beijo para ti, voltarei para te ler mais.
Isabel
De
heretico a 28 de Agosto de 2007 às 20:36
concordo. gostei muito da tua visão "heliocêntrica" das relações sociais. sem dúvida com trajectórias e densidades distintas as pessoas com que deparamos ao longo da vida.
De almapater a 29 de Agosto de 2007 às 02:38
Olá Fernanda
Como é aconchegante o tempo que não tem tempo, mesmo quando o amargo da distância, faz perdurar o sabor melancólico da saudade.
Fique bem [
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Olá Fernanda <BR>Como é aconchegante o tempo que não tem tempo, mesmo quando o amargo da distância, faz perdurar o sabor melancólico da saudade. <BR>Fique bem <BR class=incorrect name="incorrect" <a>Fernado</A> .
De leonoreta a 29 de Agosto de 2007 às 17:18
almapater
como nao concordar consigo...
e pelo que ja me foi dado a experimentar quando a distancia adocica suprimindo a saudade aquele tanto tempo parece que foi ontem porque tudo o que havia de bom continuava bom e ficava melhor.
beijinhos
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