Sexta-feira, 5 de Outubro de 2007
Os meses de Maio e de Junho são tímidos na sua natureza. O sol tão depressa desponta por entre as nuvens como a seguir se esconde no meio delas, ainda chuviscando, ainda fazendo frio.
Ele apareceu de gabardine beje claro. Ela vestia um blazer curto da mesma cor. Abrigaram-se de uns pingos de chuva que teimavam em molhar aquele encontro que surgiu tão inesperado.
- Quero dar-te um abraço. – disse ele ao telefone.
- Estás cá? – perguntou ela contente pela surpresa.
No banco de pedra do jardim, falaram de coisas triviais, pueris, daquele homem que vive enquanto preocupado com o tempo e do outro homem que vive enquanto preocupado com as horas. As horas não interessam para o homem do tempo.
- Gosto das coisas que tu escreves. – disse ele.
Ela sorriu vaidosa e agradecida pelo tempo que ele lhe dedicava.
As coisas que ela escrevia! Momentos reais da memória enlaçados com momentos sonhados do desejo. Ela nem sabia porque escrevia o que escrevia. Impulsos de recriar uma realidade onde ela era a heroína.
Na despedida deram um abraço. Um abraço morno e apertado de quem andava de mãos dadas há já algum tempo de um tempo sem horas.
Leonoreta
De
Casimiro a 6 de Outubro de 2007 às 15:16
E são tão bons esses abraços, não são?
De
António a 6 de Outubro de 2007 às 19:47
Querida Leonor!
Um texto belíssimo que encerra uma poesia que muitos poemas não tem.
Adorei!
Beijinhos
Texto...lindo como sempre. Os momentos que nos dão prazer não escolhem horas e todas as horas podem fazer momentos ideais.Bom Fim de Semana.Bjs
De almapater a 8 de Outubro de 2007 às 00:32
há nela e nele, uma urgência tão urgente, que o tempo, não se faz mais de horas, nem de dias, nem de meses ou anos. Faz-se do deambular entre a premência, e o entendimento, como se a certeza, tivesse mesmo vencido a escala temporal do pensamento.
É Outono. Há urgência nos nevoeiros que cobrem o rio. Logo logo, os plátanos despem-se, e os diospiros, deixam de deixar a boca grossa.
Boa semana , escritora!
De pedro alex a 8 de Outubro de 2007 às 18:59
E se em Maio come a velha as cerejas ao borralho, neste tempo comeria eu umas castanhas ao ler-te não fosse o estardalhaço de cascas que faria neste teclado já de si pouco asseado.
E eu também gosto das coisas que escreves Leonor, este teu registo de relacionamentos mornos mas com asas para muito mais deliciam qualquer mortal, oh se deliciam. A mim deliciam-me e irritam-me a imaginação, oh se irritam.
Bj
Também gostei da meneira como escreve Leonoreta!
(é a da lambreta? ;D)
Muito poético este texto, e ao mesmo tempo tão simples e quotidiano.
De
alexiaa a 10 de Outubro de 2007 às 20:45
As vezes "brinco" aos fragmentos... engraçada a forma como nos tornamos a protagonista!
Eu gosto da forma como encaixas o tempo...
Beijinhos!
De loira incompreendida a 11 de Outubro de 2007 às 14:15
Adorei este texto!
ai, já tinha saudades de encontrar um blog assim, tão fresco e com palavras tão bonitas...
beijinhos
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