Ou era o chão que estava torto ou era a estante que estava coxa.
Quando ela puxou um livro que teimava em não sair de entre o aperto de outros livros, a estante oscilou para a frente e a caixa de cartão enfeitada de flores rosa onde ela guardava fotografias soltas caiu da ultima prateleira e todo o seu conteúdo se espalhou pelo chão.
Fotos analógicas, em papel brilhante e papel baço, do tempo em que não se pensava em digital. Algumas tinham escritos o local a data por trás. A maior parte delas tiradas com a sua máquina kodak oferta dos pais quando fez doze anos. Automática, sem velocidades e sem aberturas.
- Olha para mim!- gritou ela com a máquina apontada para ele. Ele olhou e ela disparou.- agora tira-me uma a mim!
- Encosta-te ao canhão para apanhar parte do Paço pelas ameias do castelo. – disse ele.
Depois alguém lhes tirou uma foto juntos mas no meio de tanta foto solta ela não achava essa. Ficou a olhar aquelas duas, perguntando se lá no céu ele estaria a ver as fotos com ela.
Leonoreta
De
António a 1 de Dezembro de 2007 às 13:53
Querida Leonor!
Um pequeno mas valioso texto em que misturas os tempos e os lugares, a realidade, o sonho e a ficção sendo o resultado francamente positivo e um pouco insane.
Um ensaio de "non sense"!
Beijinhos
De
sophiamar a 1 de Dezembro de 2007 às 20:30
Olá, Amiga!
Vou passar a comentar aqui . Li o post e gostei, como sempre. A estante, o aperto dos livros, proporcionaram-lhe uma viagem ao passado. Sinal de vda! Só quem está vivo o pode fazer. Ou talvez não! Estaria ambos a recordar? Nnca o saberemos! O que sabemos é que o tempo passa e os testemunhos ficam.
Beijinhosssss mil
De
heretico a 1 de Dezembro de 2007 às 22:37
certamente que sim. somos fotos uns dos outros...
De almapater a 1 de Dezembro de 2007 às 23:55
Estava. As gangas eram esbranquiçadas na mesma, mas mais do uso, menos da pré-lavagem. Até faziam uns “blazer’s” que eram cintados, com golas largas e compridas, e um só botão que se insistia em usar apertado. As calças, que esmagavam as coxas e o que por ali se atrevesse, sobravam de amplitude e largueza, sobre os tacões intermináveis que imitavam os “slade”. As militâncias obrigavam, nos intervalos de fumos mais perfumados, a sorver 3 vintes, por alternativa ao tão obreiro português suave sem filtro. Trauteava-se o “camonfilthenoise” e os tufados cabelos de anos de ausência de tesoura, ficavam mais tufados nos clichés a preto e branco. Mergulhavam-se entre abraços febris e nervosas mãos escondidas, no banco de trás de um velho 600 de portas ao contrário, e carroçaria remendada a tábuas e cartões.
No céu ou na terra, no mar ou no ar, com ou sem horizonte, não há cegueira nem vento, nem dor nem tormento, que levem ou roubem as visitas a essas fotos.
De leonoreta a 2 de Dezembro de 2007 às 09:23
vejo almapater, que pela sua memoria da moda da epoca andamos pelos mesmos aniversarios.
já nao me lembrava do unico botao que obrigatoriamente gostavamos de trazer abotoado. mas de repente tambem me lembrei que nuunca levantei a gola do meu blusao a laia de elvis presley.
beijinhos
De
lena a 8 de Dezembro de 2007 às 18:30
Leonor amiga linda
vi essas fotos, caíram nas minhas mãos e a saudade bateu
seja em que tempo for, mesmo a preto e branco, ou já gastas de cor, acredito que as viu
abraço-te muito, com muito carinho
beijinhos, sei que gosto muito de ti
lena
De pedro alex a 12 de Dezembro de 2007 às 17:17
Vou-te contar um pequeno segredo:
Quando gosto, sinto que gosto, seja lá o que for, não interpreto, repito.
Repito-te sem interpretar.
Em complemento, agora, lembrei-me que em tempos idos, os ateliers de fotografia retocavam com cor as fotografias dando um ar da sua graça ao preto, cinzas e branco.
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