Tenho a mania dos parágrafos grandes. Perdão. Tinha.
Eco, tirou-me as peneiras quando a páginas tantas de Como Se Faz Uma Tese, me diz:
- Olhe, não escreva à Proust com parágrafos que nunca mais acabam. Use orações simples: sujeito, predicado e ponto final.
Detive-me a olhar para o professor, a reflectir naquilo que me estava a dizer.
- Já não estou a perceber nada. Ficaste a olhar para ele? Mas tu conheces o homem? – perguntou-me uma colega quando comentei o facto com ela. Nem respondi.
Quando abro um livro raramente o leio. Gentilmente, as frases feitas de palavras ou as palavras feitas de letras se antropomorfizam na minha frente. O autor ou a autora tomam forma humana.
Vai daí, meti mãos à obra. Revi o meu trabalho ou, como diz a minha orientadora “o nosso estudo”, de uma ponta à outra à outra. Ora bem, feitas as contas… setenta páginas… mais dez pontos finais em cada uma… deu um acrescento de setecentos pontos finais.
- Professor, veja bem o medo que já me incutiu.
- À laia de Freud, isso que se manifesta em si não é medo, é mais um complexo de Édipo latente na sua escrita. – disse-me o Umberto.
- Ah! Não me diga professor. E já agora quem é esse Freud de quem eu nunca ouvi falar dele.
Leonoreta
De almapatar a 5 de Abril de 2008 às 01:57
Cada ponto final, é um final de ciclo. Um final de afirmação. Um final de respiração. Cada ponto final, é um degrau na imensa escadaria da exposição opinativa, Cada ponto final, feito métrica, é a extensão freudiana do objecto da aprovação paterna, essa medalha feita conquista de afectos e preferências. Se cada ponto for um centímetro, quanto mede o seu desejo de aprovação? O orientador que faça os cálculos. Como qualquer publicitário, ele entenderá, que fora do mundo delirante do sonho, ele como qualquer publicitário, é um exagerado.
Beijo cara.
De
António a 6 de Abril de 2008 às 14:47
Querida Leonor!
É giro ter o Umberto Eco como professor?
Beijinhos
E já agora um José Saramago. Bom professor para as pausas.Quanto não seria poupado nessa pontuação.Força. Bjs
As tuas também se antropomorfizam na minha frente. E vejo-vos, a ti inocente, ao Umberto espantado pela tua questão.
É um prazer Leo!
Bj
De
heretico a 8 de Abril de 2008 às 21:08
Proust, Freud?
decididamente andas em "más companhias"... rsss
Comentar post