Sexta-feira, 18 de Abril de 2008
Numa das muitas vezes em que o corpo docente toma café na sala dos professores, meti-me na conversa de duas colegas minhas como é defeito do meu à vontade.
Falava-se de história de Portugal.
- Inês de Castro é a minha personagem histórica preferida. A história dela é a parte mais bonita da nossa história – disse uma colega.
Arrematei à queima - roupa.
- Mas isso foi tudo inventado por Camões. De facto o amor de Dom Pedro e Dona Inês não foi assim tão romântico.
Vi o espanto no seu estado puro nos olhos da minha colega.
- Não acredito! – disse ela, esperançada que eu dissesse que eu estava a mentir.
- É verdade! Camões estudou em Coimbra. Namorou muito na Fonte das Lágrimas. Tinha imaginação, sabedoria, e deu um toque de ficção à história. Penso que foi muito bem conseguido. Depois o povo adoptou o romance dos dois monarcas como verdade e passou-o à realidade mas não passa de uma lenda.
- Não acredito! – continuava ela, ouvindo-me desconfiada.
- É verdade. Nas Lendas e Narrativas de Alexandre Herculano, um grande historiador, muito honesto...tão honesto que foi excomungado pela Igreja por dizer que João das Regras falseou a subida ao trono de João I na crise da sucessão de 1385, Dom João que era um dos bastardos nascido de uma outra relação de Dom Pedro com outra mulher ao mesmo tempo que namorava Dona Inês… não se encontra nada relativo à veracidade dos factos dos dois amantes. – eu falava depressa, olhando-a na sua incredulidade, divertindo-me a provocar o fanico.
Provoquei uma ruptura de conhecimento. É bom tomar café com as colegas.
Leonoreta
De
António a 19 de Abril de 2008 às 13:51
Será que o café te converte numa "desmancha -prazeres", Leonor?
ah ah ah
Um bom texto!
Beijinhos
De
mac a 19 de Abril de 2008 às 15:01
Não tens vergonha de destruir uma das maiores histórias de amor? És uma desmancha prazeres :-))
De
alexiaa a 19 de Abril de 2008 às 15:19
Sinceramente aqui deste lado deu-me um fanico, não estava nada a precisar dum desencantamento desses:).
Gosto da forma “seca” como terminas ou não os teus textos.
Beijinho, vou agarrar-me à ficção e transpor o Romeu e a Julieta para uma realidade que me dá imenso jeito!
De almapater a 19 de Abril de 2008 às 15:41
Cara. A questão, não é a objCara. A questão, não é a objectividade do reporte ao facto histórico. (todos os descritos são contestáveis, sem esforços , nem empenhos excessivos) Nuclear, é a essência. Não da história, mas sim do seu texto. E o que ele diz, é que as manhãs de sábado, mesmo que a olhos fechados o filme se faça de sol quente, e croissants dourados em aromas de café fumegante, o relevante, não são os lençóis ainda mornos, nem a promessa de harpas celestes tocadas a dois, mas a irrespirabilidade do ar pejado de dolorosas (e solitárias) travessias nocturnas.
De leonoreta a 19 de Abril de 2008 às 17:35
boa tarde almapater
gosto muito de ler os seus comentarios pelo caracter hermetico que apresentam, constituindo um desafio a minha capacidade de interpretaçao.
por aquilo que eu percebi, penso que prefiro as coisas faceis mas e mentira. ha em mim uma atracçao irresistivel pelo que e trabalhoso.
beijinhos
Pronto! Lá se foi a linda Inês posta em sossego, dos seus anos colhendo doce fruto...:)
Beijinho.
De
mixtu a 21 de Abril de 2008 às 22:53
yayaya
és tan má...
a colega... a acreditar que é possível morrer por amor e agora vai ter que apenas viver...
abrazo</a> serrano
De pedro alex a 22 de Abril de 2008 às 15:58
Embora se diga que de Espanha nem bom vento nem bom casamento, o facto é que sentimos um fraquinho pelas dignas representantes do sexo feminino do país vizinho.
Dom Pedro não fugiu à regra e Camões idolatrou-a.
Eu, ibérico convicto, deixo-me ir nas palavras do Camões e duvido das tuas, que embora verdadeiras não me convêm.
Bjs
Comentar post