. Fragmentos dela, dele e à...
Era outra vez Natal. Quando ela era pequena gostava do Natal. O Natal era-lhe sinónimo de prendas. A mãe colocava-as junto da árvore à medida que elas iam aparecendo lá
A mãe trocava-lhe as voltas mas o que ela queria era o soslaio do olhar, o passo em falso no sorriso.
- Dá-me uma prenda de Natal. Faz-me um desenho. – disse ele.
- Não é fácil fazer um desenho. Para mais, eu não sei desenhar. – disse ela.
Ela desenhava como as crianças. Todos os seus traços eram naif. Contudo, ela fê-lo.
Uma clareira no meio de uma floresta, um céu azul sem nuvens. Apenas três pássaros ao longe. Ele e ela de frente um para o outro, sentados no chão, na partilha de uma merenda.
Ele olhava o desenho.
- Não vais pendurá-lo por cima da mesa de cabeceira? – perguntou-lhe ela ironicamente.
- Nota que não te vou fazer uma crítica, apenas uma constatação. É sem duvida um espírito infantil o que preside ao desenho. Adoptaste o Universo das crianças porque constitui um espaço de fuga. "A arte da fuga" é uma constante nos artistas que só varia no modo e nas preferências. Imaginário infantil e até a própria arte de não dizer mas, sugerir, como acontece nos teus textos, faz me lembrar o Pessoa quando diz: "a arte é uma confissão de que a vida não basta". A ti não só não te basta como ainda por cima te aflige.
Ela ouvia-o de sobrolho franzido. Um dia quis experimentar saltar para a vida e para as pessoas numa transparência de fazer doer. Quando quis retroceder era tarde demais.
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