Voltei a ler.
Isto é, voltei a ler coisas como ficções, daquelas que não são verdade mas que até podiam ser e, numa linha ou noutra, encontramos algo de semelhante com a nossa vida.
A Maria, a minha colega da sala ao lado emprestou-me “Tréguas” de Mário Benedetti. Gostei muito sim senhor. Aliás, já o tinha dito.
Mas agora a pausa à espanhola acabou-se e senti –me obrigada a voltar às pedagogias, ao aluno ideal, ao professor ideal, ao ensino ideal, ao ministro ideal, ao ordenado ideal.
Na segunda feira, entreguei o livro de Benedetti à Maria com algum pesar.
- Gostaste? – perguntou-me ela
- Sim. Muito.
- Vou arranjar-te outro. Ainda estás a precisar.
E no dia seguinte, a Maria entrou na minha sala, que está sempre de porta aberta a qualquer invasão, infantil ou adulta, e deu-me em mãos um novo livro, desta vez mais grosso que o anterior: a vida de PI de Yann Martel.
- Para ver se acreditas em Deus de uma vez por todas. – disse-me ela.
Será possível que o meu niihilismo seja assim tão evidente no meu olhar, no meu andar, nos meus gestos… porque de boca não digo nada. Ou se digo, não noto.
A vida de Pi.
Já passei as páginas de apresentação. As mais chatas de qualquer livro. Já entrei na acção. Estou a gostar. O herói é tão indefeso quanto eu. Não vou conseguir lê-lo até ao fim. A grossura da lombada mete respeito e as letras são pequenas. A Maria é professora contratada e vai-se embora daqui a pouco da escola. Fiquei com o mail dela mas sei que nunca mais vou vê-la. Ou então, se a encontrar vai ser por acaso.
Leonoreta